sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Das ruas para uma nova vida

Em julho de 2009, enquanto o projeto Radical Brasil dava seus primeiros passos na cracolândia paulista e tornava-se conhecido entre moradores de rua e usuários de drogas da região, uma jovem decidiu buscar ajuda para libertar-se da prisão do crack e mudar de vez sua história. Entretanto, ela mesma não tinha ideia do que Deus faria em sua vida.
Seu primeiro contato com os radicais aconteceu numa manhã de sábado. Pudemos registrar sua chegada e conhecer um pouco de sua história. Tímida e esboçando no rosto o sofrimento de quem passou anos mendigando o pão, revelou que, na noite anterior, não sentiu fome e nem conseguiu dormir. Passou a noite sob uma marquise, pensando em quem seriam essas pessoas dispostas a ajudá-la e qual seria seu destino a partir de então. Mais forte que sua insegurança foi a voz do Espírito, que antes do raiar do dia a conduziu à calçada da Primeira Igreja Batista em São Paulo, na época o quartel general dos radicais.
Seu nome era Geisa. Magra, trajava calça, tênis, jaqueta e usava um boné para prender os cabelos. Parecia um menino. Logo depois soubemos que seu traje, na verdade, era uma medida que preservava sua segurança e diminuía as tentativas de violência contra sua integridade. Também falava pouco, monossilabicamente. Parecia que seu senso de preservação também a vestia interiormente e impedia que a conhecêssemos mais profundamente.
Na PIB em São Paulo conheceu sua nova família. Foi apresentada ao pastor, aos voluntários radicais e a alguns membros da igreja. Recebeu café da manhã, roupas e em seguida foi encaminhada à casa de recuperação. No percurso deixava cair algumas lágrimas e, silenciosamente, as secava. Seu sofrimento chegava a impactar a equipe que a acompanhava. Soraia Machado, líder do grupo, por ser mais experiente, dava um tom de leveza ao momento fazendo algumas brincadeiras e consolando a jovem.
Ainda no carro, Geisa contou que veio da Bahia, fugida de casa após ter apanhado de seu avô, com quem morava. Pegando carona, foi parar em São Paulo e acabou conhecendo as drogas. Em São Paulo também conheceu o pai de sua filha, mas não tocou muito no assunto e a única coisa que revelou foi que nunca mais soube do rapaz e que sua filha estava sendo cuidada por uma amiga.
Quando questionada sobre seu futuro, deu um sorriso amarelo e disse que não esperava muita coisa, talvez conseguir um emprego, voltar a estudar e ter sua filha de volta. Disse isso, mas sem muita convicção de que pudesse conseguir essas coisas. Contudo, Deus, aquele que faz infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, começava a escrever uma nova história de vida para ela.
Após a internação, em dezembro do mesmo ano, descia às águas batismais no templo da PIB São Paulo. Foi morar com as radicais, ajudava na Cristolândia e reaprendia “a se vestir, conversar, deixar de sentar nas ruas e calçadas, aprendendo a construir uma nova vida com Cristo. Fez curso de manicure e começou a ajudar no salão de uma missionária voluntária. Sua vida foi brotando pouco a pouco, até a descoberta de uma linda moça”, compartilhou a missionária Soraia. O tempo passou e, na Cristolândia, Geisa conheceu Diógenes. Crente, vindo do sul em busca de emprego na cidade, havia sido roubado e estava no albergue onde conheceu um rapaz da Cristolândia. Assim chegou ao projeto e começou a ajudar como voluntário. Em uma reunião de oração Diógenes compartilhou o desejo de “noivar” com Geisa no dia de seu aniversário. O pastor Almir, da Primeira Igreja Batista de Jardim Paulicéia, tornou o sonho do rapaz realidade, presenteando-o com as alianças.
No último dia 24 de novembro, aquela frágil menina sem esperanças, recolhida das ruas da cracolândia, liberta das drogas, viveu um dos momentos mais marcantes na vida de uma mulher. Trajando um lindo vestido de noiva, adentrou o templo da PIB São Paulo conduzida pelo pastor Humberto Machado, coordenador da Missão Batista Cristolândia, para casar-se com Diógenes. A filha de Geisa foi a dama que levou as alianças ao altar. O pastor Paulo Eduardo e o pastor Humberto Machado celebraram o belíssimo casamento, do qual também participou o pastor Nilton Antônio de Souza, gerente executivo de evangelismo e discipulado de Missões Nacionais.
Tudo foi providenciado com carinho e esmero pela família da noiva: A família de Cristo. O vestido foi doado pela PIB de Sorocaba (SP), a roupa das damas foi uma cortesia da loja Emília Modas, que, ouvindo a história, se comoveu e emprestou sem cobrar qualquer aluguel, a noite de núpcias foi presente da irmã Karen Hirsch, da Igreja Batista Ipiranga, que ajuda semanalmente como voluntária no projeto, a lua-de-mel na Bahia foi uma doação da Primeira Igreja Batista de Guaianazes e da Primeira Igreja Batista de Atibaia, além da participação de outros voluntários. Durante a viagem Geisa reencontrará o avô e irmãos, que não vê desde os 13 anos de idade, quando fugiu de casa.
Entre os convidados do casamento estavam irmãos da PIB São Paulo, da Missão Batista Cristolândia, os radicais e voluntários do projeto, mães sociais de instituições por onde Geisa passou e duas tias que vivem no estado. O pastor Paulo comentou: "Posso dizer que eu vi a Geisa quando ela foi tirada das ruas do centro de São Paulo. Ela estava sentada na calçada da Primeira Igreja, levada por uma irmã. Vê-la hoje bem cuidada, casada, feliz e servindo a Jesus é simplesmente maravilhoso. Não há manifestação mais contundente do que o Evangelho pode fazer com uma vida".
Irmã Alcinéia, membro da PIB São Paulo e voluntária no projeto, diz que Geisa hoje é uma menina doce e sempre aberta para aprender, que gosta de ajudar e é muito prestativa, bem diferente da pessoa rebelde e que não acreditava em ninguém do passado. “Isso só foi possível com a ajuda da família de Missões Nacionais, que olhou com os olhos de Deus para o centro de nossa cidade e colocou a bandeira do Evangelho, pois é a única maneira de se ter mudança verdadeira. Vejo um futuro muito maravilhoso para ela junto com Diógenes. Deus é fiel e atende nossas orações”.
A mudança de vida surpreende a própria Geisa. Enquanto se preparava para o casamento, afirmava: “Que coisa estranha eu estar agora como estou. Eu mesma escolhendo uma roupa para meu casamento? Eu vivia nas ruas e nem acredito que sou eu agora”. Ainda surpresa com a nova história escrita por Deus, Geisa luta para reaver a guarda de sua filha. Casada, viverá em Bauru e terá sua carteira assinada. Ela e o esposo serão responsáveis pela cozinha do Centro de Formação de Vida Cristã Cristolândia, que foi inaugurado no último dia 26 de novembro. Com o coração grato, afirma: “Agora estou numa nova vida. Cristo me mudou através da Cristolândia”. A missionária Soraia, que acompanhou Geisa ao longo desta caminhada, resumiu: “Estamos em festa, celebrando a vida e as maravilhosas bênçãos de Deus. Geisa, como todos os outros irmãos que foram alcançados, são filhos que foram gerados nas entranhas do amor, e a prova de que o Evangelho é o poder de Deus”.
Missões Nacionais agradece a todos que têm colocado suas vidas nas mãos de nosso Senhor para serem usadas para que histórias como as de Geisa possam ser, por Deus, reescritas. Oremos para que as bênçãos de nosso Deus sejam derramadas a cada dia sobre a vida do casal e de todos os que têm sido alcançados pelo poder do Evangelho nas ruas da cracolândia.


TIAGO PINHEIRO MONTEIRO E MARIZE GOMES GARCIA
Redação de Missões Nacionais - www.jmn.org.br
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