domingo, 11 de setembro de 2011

Radicais da Somália exploram famintos em fuga para o Quênia


Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Dez anos após o 11 de Setembro, a guerra ao terror não dá sinais de perder força, pelo menos no Chifre da África. O grupo extremista Al-Shabaab, financiado pela Al-Qaeda, deixou o centro de Mogadíscio nas últimas semanas, mas grande parte da Somália segue na mão de extremistas. Enquanto milícias infiltram extremistas até mesmo em campos de refugiados controlados pela ONU, governos tentam evitar um conflito regional.
Desastre humanitário. Somalis rezam em cerimônia no campo de refugiados de Dadaab, um dos maiores do mundo, que abriga cerca de 440 mil pessoas, no norte do Quênia - Jonathan Ernst/Reuters–30/8/2011
Jonathan Ernst/Reuters–30/8/2011
Desastre humanitário. Somalis rezam em cerimônia no campo de refugiados de Dadaab, um dos maiores do mundo, que abriga cerca de 440 mil pessoas, no norte do Quênia
O Estado visitou o sul da Somália, nova fronteira da batalha entre a Al-Shabaab e o governo central, financiado por EUA e Europa. As zonas de controle são definidas e redefinidas a cada dia, dependendo do avanço da milícia.
O governo somali foi derrubado em 1991, mas milícias da oposição não conseguiram chegar a um acordo sobre a nova administração. Em 2006, desembarcou no conflito a Al-Shabaab, que rapidamente se transformou na maior ameaça ao governo.
O sinal mais preocupante de que o grupo continua operando aparece no maior campo de refugiados do mundo, em Dadaab, no Quênia. No mês passado, três homens vestidos com burcas entraram no principal mercado local e abriram fogo contra um líder religioso. Informações obtidas pela ONU indicaram que o líder era ameaçado pela Al-Shabaab por se negar a colaborar no recrutamento de jovens para a milícia.
O governo queniano alerta que o campo de refugiados, com 440 mil pessoas, transformou-se no novo palco da batalha entre os extremistas e aliados do governo. ONGs acusam o Quênia de usar a desculpa para fechar sua fronteira para refugiados. Mas, em Dadaab, não é segredo para ninguém que os extremistas estão infiltrados.
Elizabeth Macabo, uma das funcionárias da ONU que trabalha no registro de refugiados, diz ouvir um número cada vez maior de "histórias confusas" de homens que chegam ao local. Sinal de que não seriam exatamente refugiados, mas milícias que se passam por famintos para entrar no acampamento.
Em levantamento, a Anistia Internacional confirmou, há poucos meses, a existência de infiltrados. Em outro estudo, Human Rights Watch também diz que o governo queniano recrutou jovens do acampamento para lutar em milícias, dessa vez contra a Al-Shabaab.
Abdi, um garoto de 11 anos, contou ao Estado que sua mãe o impediu de ir a escolas montadas no campo para ensinar o Alcorão, temendo ser induzido a lutar. "Ela tem medo que eu volte para a Somália", contou Abdi, que nasceu no campo de refugiados.
A inteligência queniana repassou para a ONU, há dois meses, informações de que um possível atentado no campo estaria sendo planejado pelos extremistas. As informações chegaram a identificar até mesmo a maneira pela qual o atentado ocorreria - um burro levaria uma bomba para o meio das barracas.
Outra arma explosiva tem sido a ajuda internacional para o combate à fome. Nos últimos dois anos, o comando da Al-Shabaab negou acesso da ONU e de ONGs à população faminta, alegando que a declaração da crise de fome seria uma forma de a comunidade internacional justificar a intervenção no país.
Segundo a Anistia Internacional, os militantes diziam aos fazendeiros que eles deveriam depender só de Alá, e não da ONU e de "outros infiéis". No caso da ajuda americana contra a fome no Chifre da África, a maior entre os doadores, menos de 25% vai para a Somália por causa da presença de extremistas.
Segundo observadores internacionais, a fome enfraqueceu o apoio aos extremistas. "Os comandantes mais jovens da Al-Shabaab arruinaram a relação com várias camadas da sociedade ao exigir, em plena seca, dois camelos ou um dos filhos da família por cada garoto que se recusa a servir na milícia", disse ao Estado o porta-voz das tropas da União Africana, Paddy Ankunda. Segundo ele, houve um racha no grupo. Uma parte, liderada por Mukta Robo, alega que os militantes deveriam permitir acesso da ONU a cidades afetadas. Já Ahmed Godane, líder da milícia no sul, rejeitou.
A nova realidade abalou a relação da região com a Eritreia. O presidente eritreu Isaias Afewerki é acusado de financiar a Al-Shabaab. Em Uganda, o governo colocou como prioridade a derrota dos extremistas na Somália. Kampala quer uma revanche depois que o grupo extremista matou mais de 70 pessoas em dois atentados na capital ugandense em 2010.
No sul da Somália, onde o Estado esteve, as milícias da Al-Shabaab controlam grande parte da área, com bolsões nas mãos do governo, como a cidade de Dhobley. O extremistas também dominam portos, aeroportos, estradas e um sistema de cobrança de impostos de agricultores e donos de lojas que permite a coleta de até US$ 100 milhões por ano.
Para um dos líderes da comunidade somali em Uganda, Abdullahi Hajji Ahmed, o governo central só terá sucesso em sua luta quando montar uma estratégia para enfraquecer a base de recrutamento do grupo, que em árabe significa "A Juventude". A justificativa para a guerra seria expulsar milícias que atuam em nome do Ocidente. "Para isso será necessário mostrar benefícios sociais para essas famílias, mas isso será difícil diante da atual crise", completou.
ENVIADO ESPECIAL A DHOBLEY, SOMÁLIA 

sábado, 10 de setembro de 2011

Fome na Somália se agrava

 A divulgação do primeiro relatório sobre o número de mortes provocadas pela crise alimentar na região do Chifre da África revela que mais de 29 mil crianças com menos de 5 anos já morreram de fome nos últimos três meses na Somália - uma média de 300 por dia, quase 15 por hora.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 640 mil crianças somalis estão subnutridas e 3,2 milhões de pessoas - de uma população total de 7,5 milhões - precisam de ajuda imediata para sobreviver.
Nesta semana, a ONU declarou situação de fome em mais três regiões do sul da Somália, elevando a cinco o total de áreas atingidas. O órgão, que na segunda-feira, 8, lançou um site em português por meio do qual é possível fazer doações às vitimas da fome no Chifre da África, calcula que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido em decorrência do atual período de seca, o pior a afetar a Somália em 60 anos.
O alto índice de crianças somalis com desnutrição aguda indica que o número de óbitos entre crianças pequenas aumentará ainda mais. Conheça algumas das formas de ajudar a Somália a combater a fome. E participe divulgando a hashtag#ajudeasomalia no Twitter.

 

SOMÁLIA- MAIS NOTÍCIAS


Seca, conflito e falta de ajuda alimentar deixaram 3,6 milhões de pessoas sob o risco da fome no sul da Somália. No total, mais de 12 milhões de pessoas no Chifre da África estão sentindo os efeitos da estiagem, a pior em décadas. Em três meses, cerca de 29 mil crianças morreram por conta da desnutrição.
Centenas de somalis atingidos pela seca seguem todos os dias para sórdidos acampamentos dentro e fora da capital, Mogadíscio, transformada em um amontoado de entulhos, entra em uma zona de guerra, num desafio às ordens dos militantes islâmicos – que controlam boa parte das áreas mais afetadas – para que permaneçam onde estão.
Cerca de 400 mil refugiados somalis – quase 5 por cento de toda a população do país – estão acampados em Mogadíscio e áreas ao redor. Perto de 100 mil pessoas chegaram somente em junho e julho, segundo a ONU.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Governo vai enviar tropas para Somália


Nairobi - As autoridades djibutianas anunciaram, quinta-feira, a sua vontade de enviar para a Somália, em Outubro de 2011, um batalhão de reforço aos efectivos militares da Missão Conjunta da União Africana (UA) e da Organização das Nações Unidas (ONU) no país  (AMISOM), noticia hoje (sexta-feira) a PANA.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Djibuti, Ali Abdi Farah, declarou quinta-feira que as tropas serão enviadas para este país do Corno de África em conformidade com as medidas tomadas pelo Governo de Transição da Somália para eliminar a milícia Al Sheab.

O Presidente de Djibuti, Omar Guelleh, tinha prometido o envio de tropas para a Somália em 2010,mas a operação foi adiada várias vezes devido à falta de fundo para o equipamento e o desdobramento dos efecivos no terreno.

O vice-presidente da Assembleia Nacional do Quénia, Farah Maalim, falando a título pessoal para os territórios afecados por Al-Sheab, declarou que os esforços internacionais para restaurar a paz na Somália deverão insistir no reforço das posições da UA.

O parlamentar queniano advertiu contra a intervenção de acores externos na política interna na Somália, receando que tal possa reforçar a teoria de Al Sheab contra a ingerência estrangeira.

O anúncio feito por Djibuti para enviar tropas foi saudado pela delegação do mnistério dos Negócios Estrangeiros do Uganda vinda a Nairobi para participar na cimeira regional sobre a crise alimentar na Somália.

A cimeira, que vai explorar um conjunto de políticas necessárias para garantir a segurança na Somália, vai igualmente abordar a estratégia da segurança dos comboios de assistência de emergência.

"O Uganda exorta todos os que desejam desdobrar-se na Somália a fazê-lo", declarou um representante ugandês presente nesta reunião ministerial.

Os líderes africanos, esperados para a cimeira sobre a crise alimentar na região, vão discutir um plano de segurança para facilitar a distribuição da ajuda na Somália.

Mas um responsável das Nações Unidas, presente nas discussões, advertiu contra a militarização dos socorros de emergência na Somália.

Catherine Bragg, secretária adjunta das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, declarou que os trabalhadores das agências humanitárias cobriram mais pessoas graças a meios civis e que os esforços de assistência devem manter o seu carácer civil.

Somália assina acordo para realizar eleições dentro de um ano


Autoridades da Somália assinaram um acordo que planeja um processo eleitoral dentro de um ano, em uma tentativa de colocar um fim ao período de transição pouco efetivo realizado com o apoio da ONU(Organização das Nações Unidas).

O documento prevê também a criação de uma nova Constituição e reformas no governo e no sistema de serviços. O plano assinado na terça-feira (6) concederá apoio financeiro com base nos resultados alcançados pelo país.

Em relação à segurança, o acordo pede que ocorram conversas com grupos armados opositores e diz que tropas da União Africana devem ficar presentes além das fronteiras da capital, Mogadício, para dar apoio ao governo.

A Somália deveria ter passado por um processo eleitoral no mês de agosto, mas o governo resolveu estender seu mandato, em partes porque a comunidade internacional não havia entrado em um acordo sobre o que deveria ser feito em relação à crise política no país.

Agencia de Notícias

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

HISTÓRICO DA SOMÁLIA

SOMÁLIA - País africano localizado no chamado "chifre da África". Banhado pelo Oceano Índico, é limitado ao norte pelo Djibouti, a sudoeste pelo Quênia e a oeste pela Etiópia. Seu nome deriva da palavra somali, que em dialeto local significa "negro".
O povo somali é extremamente arcaico, inclusive há indícios deste povo descritos em documentos do Antigo Egito. Desde muito tem relações comerciais com a Etiópia, a Arábia e com outros povos asiáticos. A partir do Século VIII, o islamismo começou a chegar naquela região. Do Século X ao XIX, os somalis se expandiram, chegando ao Quênia e à etiópia, Expulsaram os galas, e escravizaram os bantos, empregando-os na agricultura. Entretanto, não havia uma unidade política entre o povo somali. Os vários clãs mantinham-se em permanente luta por predomínio. No Século XIX, após várias lutas com povos vizinhos e invasores como os turcos otomanos, os somalis entraram em decadência. Com a abertura do Canal de Suez, pela posição estratégica da Somália, suas terras despertaram a cobiça de potências imperialistas. Inglaterra e França, que já possuíam entrepostos ali, expandiram suas posições. Em 1869, dois anos depois da abertura oficial do canal, a Itália também se estabeleceu em Aseb, que mais tarde originou a colônia de Eritréia. Em fins do Século XIX, França e Inglaterra e até o Egito estabeleceram protetorado na Somália.
Hoje, o país é um dos mais pobres do mundo. Tornou-se independente em 1º de julho de 1960. Anos depois, em 21 de outubro de 1969, o major-general Mohamed Siad Barre assumiu a presidência por golpe de Estado.
A independência e a posse de Barre, contudo, não foram suficientes para acalmar as disputas entre os diversos grupos que visam tomar o poder do país. Assim, em janeiro de 1991, Barre foi deposto por rebeldes, que em seguida, começam a lutar entre si.
A escassez de recursos naturais e os longos anos de guerra contribuíram para o estado critico da economia somali. O país possui uma economia de mercado, cujo setor mais importante é o da agropecuária, com a criação de gado respondendo por cerca de 40% do PIB e por cerca de 65% das exportações. A maioria das indústrias foram fechadas por causa da guerra civil. O processamento de produtos agrícolas sustenta o pequeno setor industrial do país e corresponde a apenas 10% do PIB.
A Somália tem uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, com cerca de 10% das crianças morrendo pouco depois de nascer e 25% das sobreviventes morrendo antes dos 5 anos de idade. A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras considera a situação do país "catastrófica". Além disso, o Banco Mundial estima que 43% da população ganha menos de um dólar por dia e segundo os dados mais recentes, em 2002, a renda per capita anual foi de apenas US$226. Recentemente, milícias islâmicas se estabeleceram no país, que estava literalmente sem governo, em caos abertamente estabelecido, desde 1991. Tropas da Etiópia apoiaram as forças do Governo Provisório Somali, conseguindo vencer os comandos islâmicos que ocuparam o poder. Atualmente, está na presidência Sharif Ahmed, com Mohamed Abdullahi Mohamed como primeiro-ministro.

ZARPA DE SANTA CATARINA NAVIO COM AJUDAS À SOMÁLIA

- Parte hoje do porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, um navio com a primeira remessa de alimentos brasileiros doados ao Chifre da África. São 204 contêineres, com 19 toneladas cada, em média, totalizando 4,5 mil toneladas.

Os milhares de sacos de feijão serão carregados no navio MSC Marta. As informações são da Folha de São Paulo.
No final de julho, o governo brasileiro anunciou que enviaria 38 mil toneladas de doações de alimentos para a Somália, onde mais de 3,7 milhões de pessoas enfrentam uma crise de fome e a pior seca na região em 60 anos.
“Cerca de 10 mil toneladas de alimentos brasileiros já estão sendo embarcadas para o Chifre da África. O carregamento nos navios é um processo que pode demorar semanas, mas a expectativa é de que até o final de setembro todo esse montante tenha sido enviado” - afirmou por telefone Daniel Balaban, diretor representante do PAM (Programa Mundial de Alimentos da ONU) no Brasil.
O envio dos alimentos do Brasil à África levará cerca de 20 dias, o tempo para cruzar o Oceano Atlântico. Com o apoio de navios mercantes, partindo de portos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o Brasil enviará à África até o fim de setembro carregamentos de arroz, feijão, milho, leite em pó e sementes.
Os números são recordes brasileiros em matéria de ajuda humanitária internacional. É a primeira vez que o Brasil faz um envio de alimentos à Somália e é a maior doação do tipo já realizada.
As entregas de alimentos colocam o Brasil como o décimo maior doador de fundos humanitários para a crise no chifre da África -região que compreende Somália, Quênia, Etiópia, Djibuti. Na última lista da ONU, o país soma US$ 22 milhões em contribuição, em 2011. À frente de potências como Alemanha, França e Suíça.
O navio brasileiro aporta em Mombaça, no litoral do Quênia. De lá, a carga será enviada a campos de refugiados na fronteira com a Somália. Mas não chegará ao sul da Somália, onde está a grande maioria dos famintos.
“O PAM está proibido de entrar na Somália pelos rebeldes do Al Shabab - que controlam a área - por isso não temos presença no sul do país” - admitiu Balaban.
Ontem, o Presidente internacional da ONG Médicos Sem fronteiras (MSF), Unni Karunakara, afirmou que é "quase impossível" ajudar os somalis que passam fome. O motivo principal seria o número escasso de agências humanitárias trabalhando dentro da Somália.
Há 20 anos, reina a instabilidade política na Somália. Desde o fim do regime de Siad Barré, em 1991, grupos radicais e clãs disputam o poder. Entre eles, está o Al Shabab, ligado à rede Al Qaeda e considerado um grupo terrorista pelos EUA.
Um governo central interino (GFT) foi estabelecido em 2004, com o apoio da ONU, mas não é reconhecido pelas forças locais, nem pela população somali.


(CM)