domingo, 11 de setembro de 2011

Radicais da Somália exploram famintos em fuga para o Quênia


Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Dez anos após o 11 de Setembro, a guerra ao terror não dá sinais de perder força, pelo menos no Chifre da África. O grupo extremista Al-Shabaab, financiado pela Al-Qaeda, deixou o centro de Mogadíscio nas últimas semanas, mas grande parte da Somália segue na mão de extremistas. Enquanto milícias infiltram extremistas até mesmo em campos de refugiados controlados pela ONU, governos tentam evitar um conflito regional.
Desastre humanitário. Somalis rezam em cerimônia no campo de refugiados de Dadaab, um dos maiores do mundo, que abriga cerca de 440 mil pessoas, no norte do Quênia - Jonathan Ernst/Reuters–30/8/2011
Jonathan Ernst/Reuters–30/8/2011
Desastre humanitário. Somalis rezam em cerimônia no campo de refugiados de Dadaab, um dos maiores do mundo, que abriga cerca de 440 mil pessoas, no norte do Quênia
O Estado visitou o sul da Somália, nova fronteira da batalha entre a Al-Shabaab e o governo central, financiado por EUA e Europa. As zonas de controle são definidas e redefinidas a cada dia, dependendo do avanço da milícia.
O governo somali foi derrubado em 1991, mas milícias da oposição não conseguiram chegar a um acordo sobre a nova administração. Em 2006, desembarcou no conflito a Al-Shabaab, que rapidamente se transformou na maior ameaça ao governo.
O sinal mais preocupante de que o grupo continua operando aparece no maior campo de refugiados do mundo, em Dadaab, no Quênia. No mês passado, três homens vestidos com burcas entraram no principal mercado local e abriram fogo contra um líder religioso. Informações obtidas pela ONU indicaram que o líder era ameaçado pela Al-Shabaab por se negar a colaborar no recrutamento de jovens para a milícia.
O governo queniano alerta que o campo de refugiados, com 440 mil pessoas, transformou-se no novo palco da batalha entre os extremistas e aliados do governo. ONGs acusam o Quênia de usar a desculpa para fechar sua fronteira para refugiados. Mas, em Dadaab, não é segredo para ninguém que os extremistas estão infiltrados.
Elizabeth Macabo, uma das funcionárias da ONU que trabalha no registro de refugiados, diz ouvir um número cada vez maior de "histórias confusas" de homens que chegam ao local. Sinal de que não seriam exatamente refugiados, mas milícias que se passam por famintos para entrar no acampamento.
Em levantamento, a Anistia Internacional confirmou, há poucos meses, a existência de infiltrados. Em outro estudo, Human Rights Watch também diz que o governo queniano recrutou jovens do acampamento para lutar em milícias, dessa vez contra a Al-Shabaab.
Abdi, um garoto de 11 anos, contou ao Estado que sua mãe o impediu de ir a escolas montadas no campo para ensinar o Alcorão, temendo ser induzido a lutar. "Ela tem medo que eu volte para a Somália", contou Abdi, que nasceu no campo de refugiados.
A inteligência queniana repassou para a ONU, há dois meses, informações de que um possível atentado no campo estaria sendo planejado pelos extremistas. As informações chegaram a identificar até mesmo a maneira pela qual o atentado ocorreria - um burro levaria uma bomba para o meio das barracas.
Outra arma explosiva tem sido a ajuda internacional para o combate à fome. Nos últimos dois anos, o comando da Al-Shabaab negou acesso da ONU e de ONGs à população faminta, alegando que a declaração da crise de fome seria uma forma de a comunidade internacional justificar a intervenção no país.
Segundo a Anistia Internacional, os militantes diziam aos fazendeiros que eles deveriam depender só de Alá, e não da ONU e de "outros infiéis". No caso da ajuda americana contra a fome no Chifre da África, a maior entre os doadores, menos de 25% vai para a Somália por causa da presença de extremistas.
Segundo observadores internacionais, a fome enfraqueceu o apoio aos extremistas. "Os comandantes mais jovens da Al-Shabaab arruinaram a relação com várias camadas da sociedade ao exigir, em plena seca, dois camelos ou um dos filhos da família por cada garoto que se recusa a servir na milícia", disse ao Estado o porta-voz das tropas da União Africana, Paddy Ankunda. Segundo ele, houve um racha no grupo. Uma parte, liderada por Mukta Robo, alega que os militantes deveriam permitir acesso da ONU a cidades afetadas. Já Ahmed Godane, líder da milícia no sul, rejeitou.
A nova realidade abalou a relação da região com a Eritreia. O presidente eritreu Isaias Afewerki é acusado de financiar a Al-Shabaab. Em Uganda, o governo colocou como prioridade a derrota dos extremistas na Somália. Kampala quer uma revanche depois que o grupo extremista matou mais de 70 pessoas em dois atentados na capital ugandense em 2010.
No sul da Somália, onde o Estado esteve, as milícias da Al-Shabaab controlam grande parte da área, com bolsões nas mãos do governo, como a cidade de Dhobley. O extremistas também dominam portos, aeroportos, estradas e um sistema de cobrança de impostos de agricultores e donos de lojas que permite a coleta de até US$ 100 milhões por ano.
Para um dos líderes da comunidade somali em Uganda, Abdullahi Hajji Ahmed, o governo central só terá sucesso em sua luta quando montar uma estratégia para enfraquecer a base de recrutamento do grupo, que em árabe significa "A Juventude". A justificativa para a guerra seria expulsar milícias que atuam em nome do Ocidente. "Para isso será necessário mostrar benefícios sociais para essas famílias, mas isso será difícil diante da atual crise", completou.
ENVIADO ESPECIAL A DHOBLEY, SOMÁLIA 

sábado, 10 de setembro de 2011

Fome na Somália se agrava

 A divulgação do primeiro relatório sobre o número de mortes provocadas pela crise alimentar na região do Chifre da África revela que mais de 29 mil crianças com menos de 5 anos já morreram de fome nos últimos três meses na Somália - uma média de 300 por dia, quase 15 por hora.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 640 mil crianças somalis estão subnutridas e 3,2 milhões de pessoas - de uma população total de 7,5 milhões - precisam de ajuda imediata para sobreviver.
Nesta semana, a ONU declarou situação de fome em mais três regiões do sul da Somália, elevando a cinco o total de áreas atingidas. O órgão, que na segunda-feira, 8, lançou um site em português por meio do qual é possível fazer doações às vitimas da fome no Chifre da África, calcula que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido em decorrência do atual período de seca, o pior a afetar a Somália em 60 anos.
O alto índice de crianças somalis com desnutrição aguda indica que o número de óbitos entre crianças pequenas aumentará ainda mais. Conheça algumas das formas de ajudar a Somália a combater a fome. E participe divulgando a hashtag#ajudeasomalia no Twitter.

 

SOMÁLIA- MAIS NOTÍCIAS


Seca, conflito e falta de ajuda alimentar deixaram 3,6 milhões de pessoas sob o risco da fome no sul da Somália. No total, mais de 12 milhões de pessoas no Chifre da África estão sentindo os efeitos da estiagem, a pior em décadas. Em três meses, cerca de 29 mil crianças morreram por conta da desnutrição.
Centenas de somalis atingidos pela seca seguem todos os dias para sórdidos acampamentos dentro e fora da capital, Mogadíscio, transformada em um amontoado de entulhos, entra em uma zona de guerra, num desafio às ordens dos militantes islâmicos – que controlam boa parte das áreas mais afetadas – para que permaneçam onde estão.
Cerca de 400 mil refugiados somalis – quase 5 por cento de toda a população do país – estão acampados em Mogadíscio e áreas ao redor. Perto de 100 mil pessoas chegaram somente em junho e julho, segundo a ONU.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Governo vai enviar tropas para Somália


Nairobi - As autoridades djibutianas anunciaram, quinta-feira, a sua vontade de enviar para a Somália, em Outubro de 2011, um batalhão de reforço aos efectivos militares da Missão Conjunta da União Africana (UA) e da Organização das Nações Unidas (ONU) no país  (AMISOM), noticia hoje (sexta-feira) a PANA.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Djibuti, Ali Abdi Farah, declarou quinta-feira que as tropas serão enviadas para este país do Corno de África em conformidade com as medidas tomadas pelo Governo de Transição da Somália para eliminar a milícia Al Sheab.

O Presidente de Djibuti, Omar Guelleh, tinha prometido o envio de tropas para a Somália em 2010,mas a operação foi adiada várias vezes devido à falta de fundo para o equipamento e o desdobramento dos efecivos no terreno.

O vice-presidente da Assembleia Nacional do Quénia, Farah Maalim, falando a título pessoal para os territórios afecados por Al-Sheab, declarou que os esforços internacionais para restaurar a paz na Somália deverão insistir no reforço das posições da UA.

O parlamentar queniano advertiu contra a intervenção de acores externos na política interna na Somália, receando que tal possa reforçar a teoria de Al Sheab contra a ingerência estrangeira.

O anúncio feito por Djibuti para enviar tropas foi saudado pela delegação do mnistério dos Negócios Estrangeiros do Uganda vinda a Nairobi para participar na cimeira regional sobre a crise alimentar na Somália.

A cimeira, que vai explorar um conjunto de políticas necessárias para garantir a segurança na Somália, vai igualmente abordar a estratégia da segurança dos comboios de assistência de emergência.

"O Uganda exorta todos os que desejam desdobrar-se na Somália a fazê-lo", declarou um representante ugandês presente nesta reunião ministerial.

Os líderes africanos, esperados para a cimeira sobre a crise alimentar na região, vão discutir um plano de segurança para facilitar a distribuição da ajuda na Somália.

Mas um responsável das Nações Unidas, presente nas discussões, advertiu contra a militarização dos socorros de emergência na Somália.

Catherine Bragg, secretária adjunta das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, declarou que os trabalhadores das agências humanitárias cobriram mais pessoas graças a meios civis e que os esforços de assistência devem manter o seu carácer civil.

Somália assina acordo para realizar eleições dentro de um ano


Autoridades da Somália assinaram um acordo que planeja um processo eleitoral dentro de um ano, em uma tentativa de colocar um fim ao período de transição pouco efetivo realizado com o apoio da ONU(Organização das Nações Unidas).

O documento prevê também a criação de uma nova Constituição e reformas no governo e no sistema de serviços. O plano assinado na terça-feira (6) concederá apoio financeiro com base nos resultados alcançados pelo país.

Em relação à segurança, o acordo pede que ocorram conversas com grupos armados opositores e diz que tropas da União Africana devem ficar presentes além das fronteiras da capital, Mogadício, para dar apoio ao governo.

A Somália deveria ter passado por um processo eleitoral no mês de agosto, mas o governo resolveu estender seu mandato, em partes porque a comunidade internacional não havia entrado em um acordo sobre o que deveria ser feito em relação à crise política no país.

Agencia de Notícias

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

HISTÓRICO DA SOMÁLIA

SOMÁLIA - País africano localizado no chamado "chifre da África". Banhado pelo Oceano Índico, é limitado ao norte pelo Djibouti, a sudoeste pelo Quênia e a oeste pela Etiópia. Seu nome deriva da palavra somali, que em dialeto local significa "negro".
O povo somali é extremamente arcaico, inclusive há indícios deste povo descritos em documentos do Antigo Egito. Desde muito tem relações comerciais com a Etiópia, a Arábia e com outros povos asiáticos. A partir do Século VIII, o islamismo começou a chegar naquela região. Do Século X ao XIX, os somalis se expandiram, chegando ao Quênia e à etiópia, Expulsaram os galas, e escravizaram os bantos, empregando-os na agricultura. Entretanto, não havia uma unidade política entre o povo somali. Os vários clãs mantinham-se em permanente luta por predomínio. No Século XIX, após várias lutas com povos vizinhos e invasores como os turcos otomanos, os somalis entraram em decadência. Com a abertura do Canal de Suez, pela posição estratégica da Somália, suas terras despertaram a cobiça de potências imperialistas. Inglaterra e França, que já possuíam entrepostos ali, expandiram suas posições. Em 1869, dois anos depois da abertura oficial do canal, a Itália também se estabeleceu em Aseb, que mais tarde originou a colônia de Eritréia. Em fins do Século XIX, França e Inglaterra e até o Egito estabeleceram protetorado na Somália.
Hoje, o país é um dos mais pobres do mundo. Tornou-se independente em 1º de julho de 1960. Anos depois, em 21 de outubro de 1969, o major-general Mohamed Siad Barre assumiu a presidência por golpe de Estado.
A independência e a posse de Barre, contudo, não foram suficientes para acalmar as disputas entre os diversos grupos que visam tomar o poder do país. Assim, em janeiro de 1991, Barre foi deposto por rebeldes, que em seguida, começam a lutar entre si.
A escassez de recursos naturais e os longos anos de guerra contribuíram para o estado critico da economia somali. O país possui uma economia de mercado, cujo setor mais importante é o da agropecuária, com a criação de gado respondendo por cerca de 40% do PIB e por cerca de 65% das exportações. A maioria das indústrias foram fechadas por causa da guerra civil. O processamento de produtos agrícolas sustenta o pequeno setor industrial do país e corresponde a apenas 10% do PIB.
A Somália tem uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, com cerca de 10% das crianças morrendo pouco depois de nascer e 25% das sobreviventes morrendo antes dos 5 anos de idade. A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras considera a situação do país "catastrófica". Além disso, o Banco Mundial estima que 43% da população ganha menos de um dólar por dia e segundo os dados mais recentes, em 2002, a renda per capita anual foi de apenas US$226. Recentemente, milícias islâmicas se estabeleceram no país, que estava literalmente sem governo, em caos abertamente estabelecido, desde 1991. Tropas da Etiópia apoiaram as forças do Governo Provisório Somali, conseguindo vencer os comandos islâmicos que ocuparam o poder. Atualmente, está na presidência Sharif Ahmed, com Mohamed Abdullahi Mohamed como primeiro-ministro.

ZARPA DE SANTA CATARINA NAVIO COM AJUDAS À SOMÁLIA

- Parte hoje do porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, um navio com a primeira remessa de alimentos brasileiros doados ao Chifre da África. São 204 contêineres, com 19 toneladas cada, em média, totalizando 4,5 mil toneladas.

Os milhares de sacos de feijão serão carregados no navio MSC Marta. As informações são da Folha de São Paulo.
No final de julho, o governo brasileiro anunciou que enviaria 38 mil toneladas de doações de alimentos para a Somália, onde mais de 3,7 milhões de pessoas enfrentam uma crise de fome e a pior seca na região em 60 anos.
“Cerca de 10 mil toneladas de alimentos brasileiros já estão sendo embarcadas para o Chifre da África. O carregamento nos navios é um processo que pode demorar semanas, mas a expectativa é de que até o final de setembro todo esse montante tenha sido enviado” - afirmou por telefone Daniel Balaban, diretor representante do PAM (Programa Mundial de Alimentos da ONU) no Brasil.
O envio dos alimentos do Brasil à África levará cerca de 20 dias, o tempo para cruzar o Oceano Atlântico. Com o apoio de navios mercantes, partindo de portos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o Brasil enviará à África até o fim de setembro carregamentos de arroz, feijão, milho, leite em pó e sementes.
Os números são recordes brasileiros em matéria de ajuda humanitária internacional. É a primeira vez que o Brasil faz um envio de alimentos à Somália e é a maior doação do tipo já realizada.
As entregas de alimentos colocam o Brasil como o décimo maior doador de fundos humanitários para a crise no chifre da África -região que compreende Somália, Quênia, Etiópia, Djibuti. Na última lista da ONU, o país soma US$ 22 milhões em contribuição, em 2011. À frente de potências como Alemanha, França e Suíça.
O navio brasileiro aporta em Mombaça, no litoral do Quênia. De lá, a carga será enviada a campos de refugiados na fronteira com a Somália. Mas não chegará ao sul da Somália, onde está a grande maioria dos famintos.
“O PAM está proibido de entrar na Somália pelos rebeldes do Al Shabab - que controlam a área - por isso não temos presença no sul do país” - admitiu Balaban.
Ontem, o Presidente internacional da ONG Médicos Sem fronteiras (MSF), Unni Karunakara, afirmou que é "quase impossível" ajudar os somalis que passam fome. O motivo principal seria o número escasso de agências humanitárias trabalhando dentro da Somália.
Há 20 anos, reina a instabilidade política na Somália. Desde o fim do regime de Siad Barré, em 1991, grupos radicais e clãs disputam o poder. Entre eles, está o Al Shabab, ligado à rede Al Qaeda e considerado um grupo terrorista pelos EUA.
Um governo central interino (GFT) foi estabelecido em 2004, com o apoio da ONU, mas não é reconhecido pelas forças locais, nem pela população somali.


(CM)

A MIDIA E A AJUDA HUMANITÁRIA A SOMÁLIA

A temporada de doações começou – e ainda nem é Natal. As principais agências internacionais de ajuda humanitária, incluindo as Nações Unidas (ONU), Oxfam, Save the Children e Islamic Relief UK, vêm lançando massivas campanhas para salvar os milhares de somalis que estão passando fome em seu próprio país e nos campos de refugiados dos vizinhos Quênia e Etiópia.
O secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon pediu 1,6 bilhão de dólares em doação para a Somália, e o Banco Mundial já suplicou por mais de 500 milhões de dólares para os esforços humanitários.

Os apelos para o envio de alimentos vêm sendo acompanhados por imagens de cortar o coração: crianças com barrigas inchadas e desnutridas, mães emagrecidas com peitos murchos que não produzem mais leite, acampamentos transbordando de hordas de refugiados esqueléticos.
Quase todas as maiores agências de ajuda humanitária estão correndo para o campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, para testemunhar, fotografar e filmar a crise. Já vimos essas imagens antes – em meados dos anos de 1980, quando Mohamed Amin filmou a fome na Etiópia, desencadeando a tendência de as estrelas do rock se tornarem benfeitoras. Desde então, a fome se tornou a principal história vinda da África – e uma das maiores indústrias.



Mídia e agências
Imagens de africanos famintos são componentes fundamentais de campanhas de arrecadação de fundos – assim como os jornalistas. Como um membro de uma grande agência humanitária afirmou ao repórter da BBC, Andrew Harding, a ONU pode produzir relatórios sem fim, mas é só quando as imagens de pessoas famintas são televisionadas ou postas nas capas dos jornais que os políticos começam a agir.
O problema é que a matéria que eles veem ou leem não é tão imparcial como eles gostariam de acreditar. Na maioria das vezes, a história é contada pela equipe da agência humanitária na região ou documentaristas independentes.
Meios de comunicação que não possuem recursos para enviar repórteres a vastas zonas de tragédia como o campo em Dadaab têm formado uma aliança profana com as agências humanitárias, cujos porta-vozes – vestindo camisetas e bonés com os logos de suas respectivas organizações – “reportam” o desastre via satélite para audiências internacionais.
Mesmo quando os jornalistas estão presentes na região, eles dependem quase exclusivamente da versão contada pelas agências. A narrativa sobre a fome na Somália, por essa razão, tornou-se previsível e unilateral.
A jornalista holandesa Linda Polman acredita que a relação “nada saudável” entre jornalistas e agências humanitárias não permite um relato independente e objetivo, mantendo-o frequentemente inclinado em favor das segundas.
Os funcionários das entidades acostumados a tratar com a mídia exploram amplamente a ânsia com a qual os jornalistas aceitam sua versão. Por sua vez, diz Linda, os jornalistas “aceitam acriticamente a neutralidade proclamada pelas instituições de ajuda humanitária, elevando a credibilidade e a imagem de especialistas de seus funcionários”.





Distorção
Essa visão simplista e sem nuances dos desastres africanos tem implicações políticas no exterior, afirma Karen Rothmyer em um caderno de debates publicado no começo deste ano pelo Centro Joan Shorenstein da Universidade de Harvard, nos EUA. “Altas autoridades estadunidenses responsáveis pela política em relação à África que começam seus dias com os resumos de matérias que enfatizam desproporcionalmente os problemas africanos provavelmente não veem o potencial do continente”.
A relação íntima entre agentes humanitários e jornalistas vem, portanto, distorcendo o modo como a África é mostrada. Os jornalistas quase nunca chegam ao coração da história ou gastam tempo para pesquisar as causas de uma determinada crise. Os africanos não figuram muito em suas matérias, a não ser como vítimas.
“No senso comum, o termo ‘africanos famintos’ sai das línguas das pessoas tanto quanto ‘céu azul’”, escreveu o ex-agente humanitário Michael Maren em seu livro The Road to Hell [A estrada para o inferno], de 1997. “As campanhas de caridade levantam dinheiro para africanos famintos. O que os africanos fazem? Eles passam fome. Mas, na maioria dos casos, eles passam fome na nossa imaginação. O africano faminto é um estereótipo fabricado pelo Ocidente, como o judeu muquirana e o árabe dissimulado”.
Em uma conversa telefônica recente, Linda me disse que a história do “africano faminto” não é apenas a mais fácil de se contar, especialmente em um continente que não recebe muita atenção da mídia internacional, como também é a mais “politicamente correta”. Afinal, quem em sã consciência quer ser acusado de não fazer nada por pessoas que estão morrendo?
Oportunidades de negócios O que mais impressiona é que, de parte dos meios de comunicação, quase não se tenta verificar independentemente os fatos e dados disseminados pelas agências humanitárias que, como eu descobri quando trabalhei em uma agência da ONU, muitas vezes são infl ados ou baseados em informações equivocadas.
“A tentação de se exagerar a extensão de uma crise para se arrecadar mais dinheiro está sempre presente”, diz Ahmed Jama, um economista agrícola somali radicado em Nairóbi, no Quênia. Ele acredita que é muito provável que muitas regiões da Somália que foram declaradas atingidas pela seca – como a região fértil do baixo Shabelle, que teve uma grande colheita no ano passado – podem, na verdade, apresentar segurança alimentar. Para ele, é possível, além disso, que as pessoas que estão sofrendo não sejam locais, mas migrantes vindos de áreas do país propensas à seca.
Ele acrescenta que é do interesse da ONU e outras agências humanitárias apresentar o pior dos cenários, pois isso mantém o fluxo da doação de dinheiro. Jama afirma que, enquanto regiões da Somália sempre sofreram de secas cíclicas, a falta de políticas agrícolas e de estocagem fez com que as secas rapidamente se transformassem em fome, o que nem sempre foi o caso. Nos anos de 1980, por exemplo, ele diz que a Somália produzia 85% dos cereais de que necessitava, graças a investimentos do governo e da comunidade internacional na agricultura.
Tragédias como a fome na Somália alimentam o negócio da ajuda humanitária, com cada agência ansiando criar para si própria a “marca” de a mais competente para lidar com a crise. Em seu livro The Crisis Caravan [A caravana da crise], recentemente publicado, Linda Polman descreve como as crise se tornam “oportunidades de negócios” para agências humanitárias.
“As entidades que querem permanecer mandando no jogo”, acrescenta, “precisam ser fluentes no idioma do posicionamento do produto, do desenvolvimento proposto e das relações com os clientes.” A presença física na área do desastre é crítica, pois “as organizações humanitárias que falham em aparecer em cada novo desastre deixam escapar contratos para a implementação de projetos de ajuda humanitária financiados por governos e instituições, e são deixadas para trás pelas organizações que aparecem”.




A verdadeira história
As agências raramente relatam as causas profundas da fome, embora no caso da Somália exista uma tendência de culpar a guerra civil e a milícia Al Shabaab que, até recentemente, as havia banido de entrar nas áreas sob seu controle.
Por mais de duas décadas, a guerra civil e a fome têm dominado a narrativa sobre a Somália. No entanto, alguns economistas acreditam que a comunidade internacional deve ser amplamente culpada pela crise no país. Michel Chossudovsky, professor de economia na Universidade de Ottawa, no Canadá, argumentou em seu livro The Globalisation of Poverty and the New Order [A globalização da pobreza e a nova ordem], lançado em 1993, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial causaram um impacto negativo na estabilidade somali depois de terem imposto programas de ajustes estruturais nos anos de 1980 que forçaram a Somália a adotar medidas de austeridade que desestabilizaram a economia nacional e destruíram a agricultura.
Ele responsabiliza as instituições de Bretton Woods, entre outras coisas, pelo aumento da dependência somali de grãos importados, pelas desvalorizações periódicas da moeda, que levaram a um aumento dos preços do combustível, fertilizantes e insumos agrícolas, e pela privatização de serviços veterinários.
“Também os fornecimentos de grãos estadunidenses que entraram no país sob a forma de doação de alimentos destruíram a agricultura local”, afirma. Essa doação, por outro lado, frequentemente foi vendida pelo governo no mercado local para baixar os preços domésticos.
O desvio de ajuda alimentar não é novo. O estudo de Linda Polman mostra que em quase todas as regiões do mundo em crise, senhores de guerra, milícias e soldados impõem “taxas” às agências humanitárias ou roubam e vendem as doações para comprarem armas.
Muito frequentemente, os campos de refugiados se tornam paraísos seguros para as milícias, que os utilizam para se reagruparem e se recuperarem. Os acampamentos, assim, prolongam indiretamente as guerras civis.




Avenidas para a propina
O que tampouco é mencionado nos apelos por recursos é o fato de que uma boa parte deles é usada para se pagar ou subornar autoridades e milícias para permitir que os comboios com as doações passem por determinada estrada. O outro fato que é convenientemente negligenciado é que uma grande parte do dinheiro arrecadado é usado para cobrir os custos administrativos e logísticos das agências humanitárias.
Equipes têm que ser contratadas, carros 4x4 têm que ser comprados, escritórios devem ser montados, especialistas internacionais super bem pagos têm que ser consultados. Tudo isso custa dinheiro, muito, muito dinheiro.
D.T. Krueger, ex-funcionário da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), estima que até três quartos dos recursos recebidos por uma agência da ONU são usados apenas para si própria. Muitas das doações acabam voltando ao país doador na forma de salários para especialistas conterrâneos e insumos para projetos de desenvolvimento que são adquiridos no mesmo país doador.
Apesar de todas essas falhas e ineficiências flagrantes, a indústria da ajuda humanitária continua firme; na verdade, se fortalece cada vez mais. Estatísticas indicam que o número de agências e ongs disparou desde o fim da Guerra Fria. (Pambazuka News. Texto originalmente publicado em The East African)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

SOMÁLIA- MISSÕES PORTAS ABERTAS

A Somália está localizada no extremo leste do continente africano, na região semiárida conhecida como Chifre da África. O território somali apresenta paisagens variadas com regiões montanhosas ao norte, desertos e savanas na área central e uma região subtropical ao sul.




População
É difícil contabilizar a população somali. O último censo foi realizado pelo governo em 1975; a partir daí só há estimativas, que devem ainda levar em conta o número de nômades e o movimento de refugiados, que fogem da fome e da guerra entre os clãs.
A maioria da população pertence à etnia somali, que se divide em inúmeros clãs. Os quatro maiores clãs - dir, daarwood, hawiye e isxaaq -, no entanto, respondem por aproximadamente três quartos da população do país. Os outros clãs, considerados inferiores, agrupam 20% dos somalis localizados no sul, e uma minoria pertence à etnia banta.
O islamismo é a religião oficial da Somália e, com raras exceções, a maioria dos somalis segue a tradição sunita. Há alguns hindus entre os indianos que trabalham no país.
A Somália é uma das nações mais pobres do mundo. Após anos de guerra civil, a economia entrou em colapso e é controlada por uma minoria que explora o narcotráfico, a venda de armas e o comércio de alimentos. A maioria dos somalis vive da pecuária e da agricultura de subsistência, e depende dos programas de ajuda humanitária.


História
A Somália tornou-se independente em 1960, quando italianos e britânicos se retiraram e o território foi unificado. Desde sua independência, o país tem tido conflitos com a Etiópia pela posse da região de Ogaden (Estado da Etiópia).
A Guerra Fria acabou por beneficiar a Somália economicamente, pois o país recebia subsídios da União Soviética em um primeiro momento e, mais tarde, passou a recebê-los dos Estados Unidos. Apesar disso, os conflitos internos e externos acabaram por devastar a nação e sua população.
Em 1991, uma sangrenta guerra civil derrubou a ditadura governante e lançou o país em total desgoverno, com mais de 20 clãs armados lutando entre si pelo poder. Em 1992, as Nações Unidas intervieram no conflito a fim de fornecer ajuda humanitária aos necessitados.
Embora o caos e a luta entre os diversos clãs ainda persistam em quase todo o território somali, um governo de transição foi estabelecido no ano 2004 para promover o processo de paz, após a iniciativa do presidente de Djibuti, Ismael Omar Guelleh, de reunir mais de dois mil representantes somalis em seu país.
O Governo Federal de Transição está situado na capital Mogadíscio. A cada cinco anos escolhe-se um novo presidente para o governo de transição.
No entanto, seu inimigo, a União de Cortes Islâmicas, embora tecnicamente derrotado, continua lutando, com a ideia de instaurar o caos e impor a lei islâmica à sociedade.


A Igrejavoltar ao topo
Os primeiros missionários cristãos chegaram à Somália em 1881. Em quase um século de trabalho, eles conseguiram algumas centenas de convertidos, até que foram obrigados a se retirar do país em 1974.
Há um pequeno número de somalis convertidos ao cristianismo morando na Somália, e muitos foram assassinados nos últimos anos por radicais islâmicos que juraram acabar com todos os somalis cristãos.


A perseguiçãovoltar ao topo
A falta de lei no país (não há Constituição, por exemplo) abre espaço para o crescimento do extremismo religioso, que é o grande responsável pela perseguição aos cristãos somalis.
Há uma Carta de direitos do governo de transição, mas ela não possui restrições ou proteções à liberdade religiosa. Duas regiões no país - Somalilândia e Puntlândia - adotaram o islamismo como a religião oficial. Em ambas as regiões, os muçulmanos não podem abandonar o islamismo, sob pena de morte.
Extremistas têm acusado organizações cristãs de ajuda humanitária de aproveitarem o caos no país para divulgar o evangelho. Tais acusações acabam atraindo a atenção da mídia e levando a ataques públicos contra os cristãos por parte dos jornais locais. Além disso, os partidos políticos muçulmanos têm publicado relatórios que detalham os programas evangelísticos e advertem severamente o povo somali a manter distância de tais atividades.
Em 13 de abril de 2008, quatro professores cristãos, dois deles ex-muçulmanos, foram mortos por militantes islâmicos na cidade de Beledweyne. De acordo com a associação Barnabas Fund, as vítimas eram dois quenianos e dois somalis (um homem de 64 anos, Daud Assan Ali e uma mulher de 32 anos, Rehana Ahmed). Eles foram mortos a tiros enquanto dormiam, durante uma invasão a uma escola cristã.
Daud e Rehana eram ex-muçulmanos que tiveram a oportunidade de morar durante alguns anos no Reino Unido. Em 2004, Daud voltou a sua terra natal para realizar o sonho de abrir uma escola.
O projeto dele só foi completado atualmente, em março de 2008. Em um blog mantido para a escola, ele chegou a escrever que estava preocupado com a invasão noturna de extremistas ao local.
O porta-voz do grupo responsável pelo ataque disse que as mortes não foram premeditadas e que os quatro professores acabaram atingidos no fogo cruzado.
Porém, vários moradores de Beledweyne disseram que os cristãos foram atingidos porque os muçulmanos tinham medo de que eles pregassem sobre Jesus aos alunos da escola de inglês. Ai, esposa de Daud, disse em uma entrevista que o marido havia sido morto por ser ex-muçulmano.


Motivos de oraçãovoltar ao topo
1. O povo somali sofre com a falta de governo. Atualmente, o país é governado por líderes regionais que agem impune e violentamente. Cada líder mantém sob controle uma região específica e todos lutam entre si constantemente a fim de obter mais poder. A população encontra-se no meio do fogo cruzado. Ore pedindo o fim do caos e o estabelecimento de um governo estável.
2. Cristãos somalis vivem sob constante perseguição. Converter-se ao cristianismo é o mesmo que fazer um convite aos radicais para assassiná-lo. Todos os cristãos vivem sob severa perseguição e temem pela própria segurança e a de seus familiares. Muitos travam uma luta íntima em relação à decisão de manter sua condição em segredo ou declarar-se abertamente e compartilhar a fé. Ore pedindo sabedoria e proteção aos cristãos somalis.
3. Grupos cristãos de ajuda humanitária sofrem com os ataques dos fundamentalistas islâmicos. Grupos humanitários cristãos podem oferecer uma importante ajuda para melhorar a qualidade de vida do povo somali. No entanto, muitos deles assumem um alto risco ao atuar no país. Comboios têm sido atacados e seus equipamentos confiscados. Além disso, alguns de seus funcionários já foram ameaçados e mesmo mortos. Ore por uma melhoria nas relações entre os ministérios cristãos e aqueles que detêm o poder local
4. As transmissões de programas evangelísticos são prejudicadas pela imagem negativa divulgada pela imprensa. Os programas cristãos de rádio e televisão, assim como a literatura, têm colhido alguns frutos. Por essa razão, os ataques da mídia somali são constantes. Ore para que os frutos se multipliquem apesar dos ataques.
5. A Igreja somali está quase extinta. Com apenas algumas centenas de cristãos somalis, é necessário que o trabalho missionário seja recomeçado da estaca zero. Isso exigirá métodos completamente inovadores para se alcançar o sucesso almejado. Ore e peça coragem e sabedoria aos líderes da Igreja.


Fontes


- 2008 Report on International Religious Freedom
- Países@
- Portas Abertas Internacional
- The World Factbook
Atualizado em 30/03/2009


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SITUAÇÃO DA SOMÁLIA

A fome afeta uma sexta região da Somália e a situação se agravará nos próximos quatro meses, já que a ajuda humanitária não aumentará, anunciou a ONU nesta segunda-feira.
O limite da fome foi superado ante a desnutrição aguda e o índice de mortalidade registrado na região de Bay, sul da Somália, em consequência de uma seca devastadora no Chifre da África, destacou a ONU.
"Se o nível atual de resposta (a crise humanitária) continuar, a fome seguirá progredindo nos próximos quatro meses", adverte em um comunicado a Unidade de Análises da ONU para a Segurança Alimentar e a Nutrição (FSNAU).
"No total, quatro milhões de pessoas estão em situação crítica na Somália, das quais 750 mil correm o risco de morrer nos próximos quatro meses na ausência de uma resposta adequada em termos de envio de ajuda", completa o texto. "Dezenas de milhares de pessoas já morreram, sendo que mais da metade eram crianças", recorda a FSNAU.
O estado de fome responde a uma definição estrita das Nações Unidas: pelo menos 20% das residências confrontadas com uma grave penúria alimentar, 30% da população com desnutrição aguda e uma taxa de mortalidade diária de dois sobre 10 mil pessoas.
A região de Bay, a última declarada em fome pela ONU, é controlada pelos insurgentes islamitas shebab, assim como grande parte do sul e do centro da Somália, e inclui sobretudo a cidade de Baidoa, uma das principais do país.

No total, 12,4 milhões de pessoas residentes no Chifre da África sofrem com a pior seca em décadas e precisa de ajuda humanitária, segundo a ONU. A Somália é o país mais afetado em consequência da guerra civil iniciada em 1991, que destruiu boa parte das infraestruturas e dificulta muito o acesso ao centro e ao sul do país.